sexta-feira, 30 de maio de 2014

Uma Coca-Cola e um pacote de bolachas

Uma Coca-Cola e um pacote de bolachas
Por Ariadne Senna

  Ele estava sentado tomando uma Coca-Cola e com um pacote de bolachas nas mãos. Sentei-me ao seu lado e começamos a conversar.
  Seu nome era Emerson e disse que vinha com frequência para aqueles lados da Rua Consolação. Contou-me que, apesar dos seus 43 anos, ainda mora com a sua mãe em um apartamento que fica próximo ao cruzamento da Alameda Santos com a Rua Pamplona. Comentou que gosta de viver com a sua mãe pois ela já o ajudou várias vezes e não tem vergonha de dizer que a ama muito e que é muito agradecido por tudo que ela já fez por ele.
  Perguntei se ele nunca havia se casado e ele respondeu que sim, uma vez, mas que, apesar de se gostarem muito, a relação não deu certo e acabou. Disse também que teve uma filha com esta mulher, no entanto após o divórcio a mulher se mudou com a menina para outro estado e Emerson não teve mais contato com elas.
  Relata que na época acabou deixando-as ir embora mas que hoje se arrepende: “É, a gente erra nessa vida”, falou ele e emendou dizendo que até sente vontade de reencontrar a filha mas que prefere não ir atrás dela porque tem medo de ser rejeitado por não ter cumprido o seu papel de pai.
  Continuamos a conversar sobre coisas cotidianas e Emerson comentou sobre a morte do ator José Wilker, disse que até se assustou por ter sido uma morte tão repentina. Emerson contou que gosta muito de ler jornal e que, para ele, jornal tem que ser jornal do dia, pois não gosta de ler o jornal de ontem com notícias já atrasadas.
  Disse que na verdade não passa muito tempo em casa pois sai bastante e tem muitas histórias pra contar de tantas coisas que já aconteceram com ele! “A vida é difícil, mas a gente faz as nossas escolhas”, comentou ele com um certo ar de sofrimento mas certo de que a vida é a gente quem faz.
  Emerson é dependente de crack e de tempos em tempos escolhe morar na rua, criando maneiras de sobreviver e de suprir o seu vício. A Coca-Cola e o pacote de bolachas foram comprados por mim e algumas amigas a pedido dele. Em certo momento Emerson nos mostrou uma sacola de supermercado cheia de pacotes e mais pacotes de bolachas e nos confessou que não iria comer tudo aquilo mas que iria vender para comprar crack.
  Se nos arrependemos de comprar aquele pacote de bolachas para ele? Não. Porque conversamos e pudemos conhecer um pouco do Emerson e assim respeitá-lo em sua maneira de ser. “Vocês são muito gente boa, vocês só merecem a verdade”, ele disse. Nós que agradecemos Emerson, por você ter nos recebido tão bem em sua casa.

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