Uma
Coca-Cola e um pacote de bolachas
Por Ariadne Senna
Ele
estava sentado tomando uma Coca-Cola e com um pacote de bolachas nas
mãos. Sentei-me ao seu lado e começamos a conversar.
Seu
nome era Emerson e disse que vinha com frequência para aqueles lados
da Rua Consolação. Contou-me que, apesar dos seus 43 anos, ainda
mora com a sua mãe em um apartamento que fica próximo ao cruzamento
da Alameda Santos com a Rua Pamplona. Comentou que gosta de viver com
a sua mãe pois ela já o ajudou várias vezes e não tem vergonha de
dizer que a ama muito e que é muito agradecido por tudo que ela já
fez por ele.
Perguntei
se ele nunca havia se casado e ele respondeu que sim, uma vez, mas
que, apesar de se gostarem muito, a relação não deu certo e
acabou. Disse também que teve uma filha com esta mulher, no entanto
após o divórcio a mulher se mudou com a menina para outro estado e
Emerson não teve mais contato com elas.
Relata
que na época acabou deixando-as ir embora mas que hoje se arrepende:
“É, a gente erra nessa vida”, falou ele e emendou dizendo que
até sente vontade de reencontrar a filha mas que prefere não ir
atrás dela porque tem medo de ser rejeitado por não ter cumprido o
seu papel de pai.
Continuamos
a conversar sobre coisas cotidianas e Emerson comentou sobre a morte
do ator José Wilker, disse que até se assustou por ter sido uma
morte tão repentina. Emerson contou que gosta muito de ler jornal e
que, para ele, jornal tem que ser jornal do dia, pois não gosta de
ler o jornal de ontem com notícias já atrasadas.
Disse
que na verdade não passa muito tempo em casa pois sai bastante e tem
muitas histórias pra contar de tantas coisas que já aconteceram com
ele! “A vida é difícil, mas a gente faz as nossas escolhas”,
comentou ele com um certo ar de sofrimento mas certo de que a vida é
a gente quem faz.
Emerson
é dependente de crack e de tempos em tempos escolhe morar na rua,
criando maneiras de sobreviver e de suprir o seu vício. A Coca-Cola
e o pacote de bolachas foram comprados por mim e algumas amigas a
pedido dele. Em certo momento Emerson nos mostrou uma sacola de
supermercado cheia de pacotes e mais pacotes de bolachas e nos
confessou que não iria comer tudo aquilo mas que iria vender para
comprar crack.
Se
nos arrependemos de comprar aquele pacote de bolachas para ele? Não.
Porque conversamos e pudemos conhecer um pouco do Emerson e assim
respeitá-lo em sua maneira de ser. “Vocês são muito gente boa,
vocês só merecem a verdade”, ele disse. Nós que agradecemos
Emerson, por você ter nos recebido tão bem em sua casa.