Marlene.
Ao mar, reme.
Ao mar, reme.
Lá estava ela, se banhando.
Será que ouvia o barulho das ondas?
Concreto e fumaça.
Na calçada, as pessoas continuavam seus trajetos, arrastadas
como uma só massa de cegos e surdos para o grão de areia que ali estava. Uma
onda de gente. Todos tão grão quanto aquele que cuidava de si em via pública, neste
caso, também via particular.
Marlene estava sendo. Sendo água com quase nenhuma. Quando
passamos por ela, tivemos o cuidado de esperar. Não queríamos atrapalhá-la num
momento íntimo. A casa dela é a rua, o lugar de banhar-se também. Sim, ela
estava tomando banho. Um galão de água umedecia um pano, o qual passava pelo
corpo.
Quando nos aproximamos, num momento de pausa, ainda se
banhando e completamente em casa, foi logo mostrando seu seio, disse que tinha areia e que vinha de
Santos.
Durante toda a conversa, o amor por Santos e pelo mar esteve sempre presente.
Segundo ela, viaja vez ou outra para lá. Como? Não
perguntamos. Penso também que não é preciso saber. O importante é que ela consegue
viajar, saindo ou não fisicamente do lugar. Santos está com ela, nela. Sustenta-a neste mundo de asfalto e concreto
que é São Paulo.
Os muitos colares e anéis a destacavam, não perdeu a
vaidade e o colorido num lugar que insiste em acinzentar os lugares e as
pessoas.
Em um momento falou algo sobre um rádio, um rádio que só
ligava quando perto do coração.
Quantas coisas realmente só ligam quando estão perto dele?
Marlene nos disse que somos fortes. Fiquei pensando na
imensidão da força dela, que na conversa relatou que se esconde todas as noites da polícia
para poder dormir, esconde também suas pouquíssimas coisas dentro da blusa para
não ser roubada, vivendo no extremo do incerto minuto por minuto.
Ela é que é força. Imensidão.
Como o mar...
Por Janina Arnaud
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